terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma carta

Meu querido, quis te odiar. Até achei ter odiado você, sei que não foi isso que você me pediu, você me pediu que te esquecesse. Mas achei que te odiar fosse ser mais fácil, o caminho mais simples, mais provável, após tudo e tanta coisa, após todos os seus nãos em réplica a todos os meus sims.

Mas nao consigo te odiar, tentei. Raiva, ah, sim, senti muito, uma ira, uma fúria. Me senti uma própria Fúria, querendo buscar alguma justiça e sentença que se adequasse a seu delito. Mas seria cruel demais, porque você foi cruel demais. Tantas palavras proferidas em com vilania e perversão. Teria medo de mim...muito medo.

Mas assim como um uma placenta foi feita para um feto, eu não fui feita para o ódio. Não digo isso para gabar-me de virtudes, é simplesmente fisiológico, meu corpo tem repulsa pelo ódio, ele fica inflamado, infeccionado, infecção essa que se espalha rápido, pro meu coração, quase uma endocardite. E a mim, me bastam minhas doenças imaginárias de uma leve hipocondria.

Quero dizer, sendo redundante, eu sei, que não posso odiar você...

Mas te conheci, você existiu, nós existimos...talvez você me odeie, talvez não...porque, como já dizia Guimarães Rosa, "Só se pode conhecer um outro, sem perigo do ódio, se a gente tem amor". Eu tenho amor, sou ele, da cabeça os pés, e talvez por isso seja um pouco louca, pois minhas duas metades o são, portanto não sei odiar quem me arrisquei a conhecer.

obs: Influências
Oswaldo Montenegro
Guimarães Rosa
Novos Bahianos

Das tripas, o coração

Eu choro enquanto ouço o vidro estilhaçando no chão
Pisando nos cacos, lascando a sola dos pés
Caminhando
Páro e me deito, rolando pelo vidro
De copos, garrafas e jarros
Que caem e quebram, em pedaços e pedaços
Que rasgam meu ventre
E dilaceram minhas vísceras
Intestinos, miocardio
Enquanto me colo toda de novo
E faço das tripas, o coração

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pretty Girls Are Never Lonely

Ele me disse para ir embora logo nos primeiros minutos da manhã, mal acabara de despertar daquela noite febril. Ele estava indiferente, fumando um cigarro, enquanto eu ainda estava deitada sob os lençóis. Estava com uma enxaqueca de merlot. Merlot! Como se oferece merlot a alguém? Já era de se esperar que algo assim acontecesse...Enquanto me vestia, coletando as roupas espalhadas por todos os cantos do quarto, começamos a discutir; ele a me apressar, e eu, emputecida que estava, e como estava!, demorava, só para aborrecê-lo ainda mais, afinal, ele teve seu prazer ontem, eu, não, portanto não poderia negar-me essa sutil e culposa liberação de endorfina, seretonina, e não sei o que mais-ina, podia sentir pequenos espamos até, justo agora. Antes de ir, com os sapatos de salto nas mãos, olhei para trás e disse:

-I'm a pretty girl, Carlos. And pretty girls are never lonely.