quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Reflexões do despertar de uma quarta feira

Meu coração está arranhado. Eu poderia usar clichês como ''quebrado'', ''partido'' ou metaforizar uma verdade e dizer que meu coração sangra. Mas, não, prefiro falar arranhão, afinal arranhar transita na corda bamba que é a tênue linha que separa prazer da dor.

E é isso que me acontece, bem assim, quando vejo, penso ou lembro, e re-sinto você. Não, não há ressentimento e sim, re-sentimento, veja bem a diferença. Eu re-sinto, e re-sinto suas mãos, seus lábios em todos os recintos do meu rosto, e em muitos do meu corpo.

Diria também que meu silêncio fala alto, se assim o fosse, mas não é. Ele é calado, bem baixo, o silêncio o é em sua totalidade, pois não há mais nada a ser dito, por mais que eu queira. Meu silêncio é tão silenciado que me tira a razão da palavra aprisionada em minhas pregas vocais.

Mas ainda assim, é suportável. Não tolero, mas suporto. É uma agonia, quase uma agoniazinha, homeopática, crônica, latente. Rasga um pouco o coração, mas não dilacera, não. Porém, por favor, se você não puder fazer os curativos ou passar um anti-séptico que seja em minhas fissuras cardíacas, vá de uma vez e me deixa limpar meus arranhões. Mas, se você quiser ficar, podemos brincar de arranhar costas, braços, e pernas, e deixar o coração quieto.

sábado, 19 de setembro de 2009

À noite

Estava com uma parte da música Lolita, de Joao Vinicius, meu companheiro do Coletivo Muito Barulho Por Nada (www.coletivomuitobarulhopornada.blogspot.com , se não conhece clica no link!) que é "a noite não acaba, a noite não tem fim..." e pensei em escrever sobre como sao as coisas à noite, quando está é intermininável (pois a crase muda sim o sentido)

Tenho dormido mal
Um sono inquieto se deita comigo
Na cama vazia
Onde um braço morno, ou quiçá quente deveria estar
Mas não está
A inquietude é fria
E está sempre na cama vazia
Mexo de lado a lado
Levanto e me falta o pranto
Ou o canto, ou um canto
Doce ou em noventa graus
Um angulação reta
Da minha vontade que se faz
Ereta
De dormir coberta, aberta, quieta

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Meu amante réptil

Uma história tão fantástica que só podia ser verdade (ou quase)

Eu o vi e não parecia nada mal. Ele tinha uma textura diferente na pele, isso era bem verdade, não era suave como deveria ser a de um jovem como ele, ao contrário era um pouco áspera e rugosa, mas preferi fingir não perceber. Seus olhos eram de um verde amarelado, e eram hipnóticos, e ele sabia bem disso.

Mas tola que sou não pude me afastar, e me aproximei mais e mais, como se envolvida por uma teia de aracnídeo. Com tempo, fui me tornando insensível a sua pele estranha, a seus olhos amarelos e loucos. Tudo tornou-se normal, como se ele normal fosse. Mas que engano cometi...

Deitávamos-nos muitas noites, e nessas horas não havia sinal algum de caráter reptiliano, o sangue era quente, morno, mas não frio. Todavia, a noite tinha varrida sua escuridão pelo dia, e tudo que a escuridão bem escondia, era revelado na luz da manhã. Os olhos, aqueles olhos fundos, graúdos, amarelos, amarelos, como de uma serpente.

Era um inferno muitas vezes, estava tudo sempre a metamorfosear-se entre nós, quando achava que o tinha bem, ele já estava mal, e eu nunca sabia o que fazer, pois pouco dele eu conseguia mesmo compreender e capturar. Tinha a impressão de que ás vezes ele se havia camuflado, ou até mesmo se escondido na bagunça de meu quarto, na bagunça de mim mesma, como se houvesse se entranhado bem fundo em mim, que já era parte minha, e só minha. Aquela parte que tem o dispositivo da autodestruição, vim descobrir depois.

Um dia, fomos dormir, e quando acordei, não era um homem que se quedava mais ao meu lado, com a cabeça encostada em minha clavícula esquerda. E sim um pequeno camaleão, verde, de pele rugosa e áspera, e olhos amarelos arregalados que se deitava sobre meu antebraço.

Pois eis que isso aconteceu, um amante réptil.

Uma análise forense do amor

A imperícia de meus sentimentos
Me consome demais o tempo
Vou me perdendo por aí
Nos braços daqueles cujo olhar me sorri
Falta tanto o discernimento
Mas não sei resistir aquele momento
De penetração de olho
De toque de mãos
De ondulação de quadris
E mais ainda daquele olhar que me sorri
Me desculpe se não foi apropriado
Mas meus sentimentos são sem perícia
De meus dedos fluem carícias
E na hora propícia
Eu me silencio

terça-feira, 1 de setembro de 2009

poemas falsos

Após um hiato...

Ovulação

Queria saber dizer as coisas diferente
Mas não sei
Tanto sangue nas minhas têmporas, quentes
Que não passa para os meus dedos, frios
Meu estômago, vazio
Porém, um coração, contente

Aurora

As luzes frias do inverno
Caminham por minhas mãos
Tenho medo de fechar os olhos
Para não mais despertar
A brisa cálida noturna beijou minha orelha
E eu, eu adormeci embaixo da janela
Com meus dois olhos abertos