sábado, 24 de outubro de 2009

Helenismo

Eu sou só saudade, um contratempo de saudade, um marca-passo de saudade. Tentei pôr meu coração no crânio, e com isso envolvê-lo numa camisa de força, porque se meu corpo é são, e o equilíbrio enzimático prevalece, meu coração é acometido por surtos e loucuras, precisa ser controlado, mas não consigo.

Tento disfarçar o que posso, e dar um pouco de opacidade à minha incontestável transparência, contudo isso falha, e me esgota. Esgota-me, me exausta. Preciso tecer fibras de espírito de sisal, daquelas bem grossas, para me cobrir. Forjo uma armadura daquelas de aço, misturando o ferro de minhas hemoglobinas e hemácias com os carbonos de meu corpo, para tentar me proteger.

Mas para quê, afinal isso só confina num lugar tão diminuto quanto eu mesma o que me amedronta, pois aquilo que me ameaça e me faz pedir proteção está pulsante em mim, e não posso escapar de mim.

Isso tudo são delírios de um sentimento irrequieto, meio febril, meio são, de quatro câmeras fibrosas e involuntárias, cada uma com suas portas destrancadas e entreabertas para um domínio helenístico.

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