quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Meu amante réptil

Uma história tão fantástica que só podia ser verdade (ou quase)

Eu o vi e não parecia nada mal. Ele tinha uma textura diferente na pele, isso era bem verdade, não era suave como deveria ser a de um jovem como ele, ao contrário era um pouco áspera e rugosa, mas preferi fingir não perceber. Seus olhos eram de um verde amarelado, e eram hipnóticos, e ele sabia bem disso.

Mas tola que sou não pude me afastar, e me aproximei mais e mais, como se envolvida por uma teia de aracnídeo. Com tempo, fui me tornando insensível a sua pele estranha, a seus olhos amarelos e loucos. Tudo tornou-se normal, como se ele normal fosse. Mas que engano cometi...

Deitávamos-nos muitas noites, e nessas horas não havia sinal algum de caráter reptiliano, o sangue era quente, morno, mas não frio. Todavia, a noite tinha varrida sua escuridão pelo dia, e tudo que a escuridão bem escondia, era revelado na luz da manhã. Os olhos, aqueles olhos fundos, graúdos, amarelos, amarelos, como de uma serpente.

Era um inferno muitas vezes, estava tudo sempre a metamorfosear-se entre nós, quando achava que o tinha bem, ele já estava mal, e eu nunca sabia o que fazer, pois pouco dele eu conseguia mesmo compreender e capturar. Tinha a impressão de que ás vezes ele se havia camuflado, ou até mesmo se escondido na bagunça de meu quarto, na bagunça de mim mesma, como se houvesse se entranhado bem fundo em mim, que já era parte minha, e só minha. Aquela parte que tem o dispositivo da autodestruição, vim descobrir depois.

Um dia, fomos dormir, e quando acordei, não era um homem que se quedava mais ao meu lado, com a cabeça encostada em minha clavícula esquerda. E sim um pequeno camaleão, verde, de pele rugosa e áspera, e olhos amarelos arregalados que se deitava sobre meu antebraço.

Pois eis que isso aconteceu, um amante réptil.

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